Era uma vez era uma vez. E era uma vez quantas vezes era uma vez. Às vezes é que não podia ser uma vez. Numa dessas vezes encontrei um cão. Era um cão que falava, como acontece às vezes. Até se podia dizer: era uma vez um cão que falava.
- Queres dizer-me alguma coisa?, perguntei-lhe.
E ele disse:
- Desde quando é que os cães falam?
Olá, pensei, este é um cão filósofo. Os cães que não ladram são todos assim: põem-se a pensar. Eu é que não estava para pensar, como ele. Nos nossos dias, já só os cães é que pensam. Conheci alguns cães filósofos, como aquele; mas nenhum me tinha feito perguntas.
E comecei a minha história: era uma vez um cão filósofo. O cão era preto.
Como te chamas?, perguntei-lhe.
- Cão.
Olá! Um cão que se chama cão!
- Assim não, cão, disse-lhe eu.
E ele ladrou-me. Não se pode falar a um cão como se ele fosse um cão. Um cão só é cão quando rói um osso. Também podia começar de outra maneira: Era uma vez um cão que roía um osso. Mas então seria apenas um cão; e o meu cão era filósofo. Eu é que já não sabia o que pensar.
E para ver se ele pensava, perguntei: - Desde quando é que os cães falam?
O cão ficou a pensar. Quando um cão pensa, parece que está na Lua.
- Tira as patas da Lua, disse a dona do Universo. Não vez que não limpaste as patas?
Bom, pensei: aí está porque é que a Lua está tão suja, quando é noite de Lua cheia. Foi um cão que lá pôs as patas, e depois se deitou. Mas o que é que queriam? Um cão da Terra tinha de sujar a Lua.[...]
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on quinta-feira, 16 de julho de 2009
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Telemaquia: Prosa com Direito de Resposta
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