São duas frases belas, mas infelizmente falsas.

A paz não é nem uma condição suficiente nem uma condição necessária para a Cultura: pode haver paz e não haver Cultura e pode não haver paz e haver Cultura.

A Cultura não é nem uma condição suficiente nem uma condição necessária para a paz: pode haver Cultura e não haver paz e pode não haver Cultura e haver paz.

Um caso que mostra bem essa dissociação é a Alemanha nazi. Depois de um dia no campo de concentração a matar judeus muitos nazis iam ouvir Bach, ler Goethe e até Kant.

Admito que uma pessoa que se interessa por Bach, Goethe ou Kant tem menos probabilidades de fazer barbaridades e portanto vale a pena apostar na Cultura. Mas é bom não ter ilusões: não há nenhum antídoto infalível contra as diversas barbaridades permitidas pela liberdade humana - como a guerra, as limpezas étnicas, a tortura, as ditaduras, etc.

Sem dúvida. Não há fórmulas.

Mas Roerich, ao que entendo, concebia a cultura como uma espécie de santíssima trindade, una e indivisível: ciência, arte, espiritualidade. Parece-me que é nesse equilíbrio que reside a sua mensagem. E, seguindo este critério, não penso que a Alemanha nazi tenha sido assim tão rica culturalmente.

Erudição e cultura não são a mesma coisa, e nem sempre coincidem.