- Não criticas os livros que lês?
- Eu? Eu não leio livros! - diz Irnerio.
- Então o que lês?
- Nada. Habituei-me tão bem a não ler que nem leio sequer o que me aparece diante dos olhos por acaso. Não é fácil: ensinam-nos a ler desde miúdos e durante toda a vida fica-se escravo de toda a escrita que nos põem à frente. Se calhar também tive de fazer um esforço, nos primeiros tempos, para aprender a não ler, mas agora é já uma coisa natural. O segredo é não se recusar a olhar as palavras escritas, pelo contrário, tem de olhá-las intensamente até desaparecerem.
- Eu? Eu não leio livros! - diz Irnerio.
- Então o que lês?
- Nada. Habituei-me tão bem a não ler que nem leio sequer o que me aparece diante dos olhos por acaso. Não é fácil: ensinam-nos a ler desde miúdos e durante toda a vida fica-se escravo de toda a escrita que nos põem à frente. Se calhar também tive de fazer um esforço, nos primeiros tempos, para aprender a não ler, mas agora é já uma coisa natural. O segredo é não se recusar a olhar as palavras escritas, pelo contrário, tem de olhá-las intensamente até desaparecerem.
"Fora do Casario de Malbork" In Calvino, Italo, Se numa noite de Inverno um viajante, Teorema.
Trad. de Manuel Cardoso Gomes.
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on terça-feira, 15 de dezembro de 2009
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Literatura,
Telemaquia: Prosa com Direito de Resposta
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