Amor e Vinícius

Posted by C. in ,

SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto,
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


SONETO DE SEPARAÇÃO


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente,
Fez-se de triste o que se fez de amante
E de sòzinho o que se fez contente.

Fez-se de amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Antologia da Poesia Brasileira, coord. de José Valle de Figueiredo, Lisboa, Editorial Verbo, [s.d.], pp. 170, 171

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2 comentários

Deve ser por causa deste soneto que as casas de banho dos liceus estão cheias de "que seja eterno enquanto dure".

19 de agosto de 2009 às 11:31

Ou então não.

19 de agosto de 2009 às 12:04

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