SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto,
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei-de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente,
Fez-se de triste o que se fez de amante
E de sòzinho o que se fez contente.
Fez-se de amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Antologia da Poesia Brasileira, coord. de José Valle de Figueiredo, Lisboa, Editorial Verbo, [s.d.], pp. 170, 171
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on terça-feira, 18 de agosto de 2009
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Literatura,
Telemaquia: Poesia com Direito de Resposta
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