Sobre as artes

Posted by F. F. in

AS ARTES

Há as artes cujo fim é entreter, que são a dança, o canto e a arte de representar.
Há as artes cujo fim é agradar, que são a escultura, a pintura e a arquitectura.
Há as artes cujo fim é influenciar, que são a música, a literatura e a filosofia.
Há uma arte cujo fim é entreter, não podendo derivar a sua força, ou o seu valor, nem do tempo que entretém, porque esse tempo forçosamente tem de ser limitado, nem da qualidade de almas que entretém, porque entreter não inclui [?] um valor — só pode derivar a sua força do número de gente que consegue entreter (e, também) da intensidade com que entretém.
Uma arte cujo fim é agradar deriva já a sua força, ou o intenso do seu valor, não só do número de gente a quem agrada, mas deste número somado à intensidade do agrado que causa. Em vez de valer extensamente como as artes anteriores, vale intensamente.
Entreter não comporta intensidade, porque entreter está ligado a variar, variar a não-durar, e o que não dura nunca pode ser muito intenso.
As artes cujo fim é influenciar, para influenciarem quantitativamente e qualitativamente, têm que ter qualidades que façam com que se dirijam ao melhor público de um grande número de épocas. Para isso é preciso que tenham qualidades que se dirijam à média superior das almas de várias épocas, no que todas as épocas têm de fundamentalmente comum. O que é isso? As épocas superiores têm de comum, ou as épocas têm de comum nas suas pessoas superiores: 1º a análise psicológica, 2º a especulação metafísica, 3º a emoção abstracta. (1º literatura, 2º filosofia, 3º música).

1925?

Páginas de Estética e de Teoria Literárias, Fernando Pessoa. Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho. Lisboa: Ática, 1966.- 29.

This entry was posted on segunda-feira, 29 de junho de 2009 at segunda-feira, junho 29, 2009 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

0 comentários

Enviar um comentário