Semana II - The Waves

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Deitei-me sozinha sobre a erva, revolvi entre os dedos um velho osso abandonado e pensei : - quando o vento soprar sobre estas colinas talvez só encontre um punhado de pó.
A mula tropeça avançando sempre. O cimo da colina ergue-se, diante de mim, envolto em neblina: mas quando lá chegar verei a África. Agora a cama cede sob o meu corpo. Atravesso os lençóis queimados, repletos de orifícios amarelos. A bondosa mulher com rosto de cavalo branco está junto da cama faz um gesto de despedida e volta-se disposta a partir. Quem me acompanhará?
Flores, apenas flores, os bons-dias e os espinheiros da cor do luar. Com elas farei um ramo e uma grinalda... mas a quem a oferecer?
Agora aventuramo-nos sobre os precipícios. Lá em baixo brilham as luzes dos barcos de pesca. Os rochedos desapareceram. Inumeráveis ondas cinzentas desdobram-se aos nossos pés. Em nada toco. Não vejo nada. Podemos cair e pousar sobre as ondas. O mar ressoará como um tambor nos meus ouvidos. As pétalas brancas ficarão obscurecidas pelas águas do mar. Flutuarão um instante antes de se afundarem. Uma onda há-de arrastar-me; outra vai erguer-me no seu agitado dorso. Depois tudo desabará como uma gigantesca catarata em que me dissolvo.


WOOLF, Virginia, As Ondas, Lisboa, Relógio de Água, 1988.
Tradução: Francisco Vale

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