Grafiteiros iletrados

Posted by F. F. in

Admiror paries te non cecidisse ruinis
Qui tot scriptorum taedia sustineas
(Estou surpreso, ó muro, que não te tenhas desmoronado sob o insuportável peso de tantos escritos)


Tal graffito, inscrito num muro de Pompeia, atesta a antiguidade dos hábitos de escrever, pintar ou gravar "selvaticamente" nos edifícios. Tais degradações podem, contudo, revelar-se preciosas: ainda em Pompeia, as diversas inscrições descobertas por aqui e por ali dão-nos informações acerca do estado da língua latina naquela época, assim como acerca da sua pronúncia. Com efeito, os "grafiteiros", em geral pouco letrados, transcreviam foneticamente aquelo que tinham a dizer. Os seus desvios, os seus erros, relativamente ao latim de referência permitem-nos estabelecer certos factos da evoluções do latim falados.
Os grafitti das latrinas latinas assemelham-se àqueles que econtramos hoje em dia em tais locais: Nil novi sub sole (cf. infra); por esse motivo, não os citaremos. Os desenhos encontrados nos casernas dos gladiadores mostram as armas e os costumes dos combatentes.
O "peso das palavras", segundo a diviso de um semanário contemporâneo*, sempre conseguiu intrigar: peso metafórico ou o peso agradavelmente imaginado. Será que a escrita pode pesar? O próprio nome de uma das escritas medievais parecer responder a esta questão: a escrita uncial deveria o seu nome ao facto de que, para traçar as suas iniciais ornadas, seria preciso uma onça de ouro, a qual corresponde ao duodécimo da libra (cerca de 489 gramas, consoante as épocas).

* Trata-se de Paris Match, revista semanal de actualidades conhecida pela sua divisa "Le poids des mots, le choc des photos". [N. do T.]

Orlando de Rudder, Cogito Ergo Sum: Dicionário Comentado de Expressões Latinas
Trad. de Tiago Marques.

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