Aos alunos de Estudos Portugueses, a nós

Posted by TELEMAQUIA in

"Nada, nadinha, filhos". Definitivamente, esta parece a resposta ao que nós, alunos de Estudos Portugueses, andamos aqui a fazer. Pelo menos, foi a resposta que a D. Dina hoje nos deu, quando, depois de espalhados os cartazes, alargados os prazos, reimpressos os regulamentos, procurámos por mais algum ensaio. Até agora o resultado foi: 1.
Meus filhos, todos vós sabeis quem nós, Telemaquia, somos. Uma designação comum figura no nosso lindo cartão de aluno Santander Totta - Estudos Portugueses. Em grande parte, o destino uniu-nos devido àquela coisa fatal e melodramática que o português sente nas suas veias, a chamada veia poética. Caramba! Essa tendência epidémica impede-nos de tanta coisa! De mudar o discurso para terceira pessoa, por exemplo, para sabermos quem é que o Cesário Verde, o Manuel António Pina, o Herberto Helder, o Fernando Pessoa, o Miguel Torga, o Al berto, o Bocage, o Rui Manuel andou a ler... o Camões (até houve um parvo que escreveu um ensaio a perguntar-se se Camões leu Platão - não vos parece uma pergunta estúpida?)
Um dia, em Teoria da Literatura, os alunos aprenderam o que é a intertextualidade. Que o sangue se contamina, percorre corpos, distâncias, mancha... A literatura é uma mancha, não uma fonte pura de sangue azul da Casa de Bragança. A espontaneidade é um mito, sabiam? Eu pensava que para escrever bastava uma esplanada sobre o mar. Mas, amigos, abram os olhos, nem a imensidão do mar circunda a nossa esplanada, só coisas estupidamente iguais a nós, com as mesmas cores, o mesmo número de calças, o mesmo registo de voz.
A Telemaquia falhou na modalidade do ensaio : eu sempre achei que devia ser poesia. Mas os meus colegas idealistas apostaram na investigação, no diálogo da literatura, na lusofonia e nessas tretas que nos saem da mente quando entregamos uma folha de teste... O resultado é este - não vale a pena incentivar a pesquisa, a investigação, quando não integrada num projecto instituicionalizado com vias de progressão no mercado de trabalho. O mercado de contrabando a que nos propusemos falhou, porque, afinal, Literatura aprende-se em três anos e com excelentes classificações. Afinal um ensaio não é nada de definitivo, não demonstra como um tratado científico, não responde, essencialmente QUESTIONA - como poderia ser a modalidade certa de concurso literário? Nós, estúpidos alunos, arrotamos convicções a toda a hora, temos as bocas cheias de adjectivos, datas e factos.
Lamento, como membro revoltado da Telemaquia, não vos ter ensinado a minha experiência com a literatura, a arte e o homem - aprender a usar o ponto de interrogação.

C.B.

This entry was posted on sexta-feira, 17 de abril de 2009 at sexta-feira, abril 17, 2009 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

4 comentários

não me espanta. nós já escrevemos antes de saber ler. nós já sabemos antes de existir. nós já respondemos antes de haver uma pergunta. porque somos todos tão geniais e ao mesmo tempo tão insignificantes. nestas alturas sou muito pouco literado e só digo: que se foda!

18 de abril de 2009 às 02:07

E bem fodido. Nem mais.

19 de abril de 2009 às 22:08

meus amigos o vosso trabalho é bom e quando gigo bom quero dizer BOM! e o resto que se foda!

19 de abril de 2009 às 23:16

Obrigado, oh Callemas. ;)

20 de abril de 2009 às 08:59

Enviar um comentário