Canta-me poeta

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I
Canta-me poeta
Canta-me estrada infinita e
Canta-me como luz para além dela
E que eu seja as rugas do futuro
E a inflamação dos teus sentidos em cardos
Que não poderás engolir
Então, cantarás
com as tuas
Só as tuas
Lágrimas
Pois das palavras, terás apenas o bafo
Que o papel rejeita.
Canta-me como outrora a lança
Beijou a alma dos homens
E entrega-te
Doente ou não
Que o teu pulso já não ouvirá
O meu gemido.


II
Tiraram-nos a velha
Casaram-nos com a nova
Ficámos à janela a tricotar o bolor do pão
Tricotámos, tricotámos até o pão cheirar a quente
E então não tínhamos que comer e passávamos fome.
Ficámos viúvos
Mas não chorámos, porque tínhamos fome.
Deram-nos casacos, mas não tínhamos frio
Senão na alma
E lenha para o inverno
Com a lenha construímos árvores
Elas caíram com o vendaval que nos mandaram
Os deuses e amigos
Quando fomos à gruta ouvimos vozes
Rimbaud est surréaliste dans la pratique de la vie et ailleurs
Bebemos de lá alguma água
Mas a sede não se afogou
E a esperança não voltou.
Se a gruta se fechou, alguém o fez
Ficamos por aqui, esperando que a velha
Ou a nova
Vindas do mundo de lá
Nos abram a gruta
Se alguém a fechou.

Irene Preto

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2 comentários

Esta Irene Preto, seja lá ela quem for, é fabulosa.

25 de março de 2009 às 19:40
Anónimo  

Obrigado.

Vocês são fantásticos.

Irene.

27 de março de 2009 às 12:00

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