Paraísos Artificiais

Posted by F. F. in

Paraísos Artificiais
Na minha terra, não há terra, há ruas;
mesmo as colinas são de prédios altos
com renda muito mais alta.
Na minha terra, não há árvores nem flores.

As flores, tão escassas, dos jardins mudam ao mês,
e a Câmara tem máquinas especialíssimas
para desenraizar as árvores.
O cântico das aves — não há cânticos,
mas só canários de 3º andar e papagaios de 5º.

E a música do vento é frio nos pardieiros.
Na minha terra, porém, não há pardieiros,
que são todos na Pérsia ou na China,
ou em países inefáveis.
A minha terra não é inefável.
A vida na minha terra é que é inefável.
Inefável é o que não pode ser dito.

Jorge de Sena, Pedra Filosofal

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1 comentários

Bela escolha este poema! É de uma beleza inefável!...e tudo o mais seriam apenas palavras.Bjs telemáquicos!

4 de maio de 2010 às 15:23

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