Tu que o disseste, acusa-te

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Sim, nós não progredimos senão na ciência. E com isso o que progredimos deveras? Progrediram, em verdade, os nossos conhecimentos? Não progrediram: nós não sabemos nada mais, essencialmente, sobre o silencioso centro das coisas. Valeu então o progredirmos porque os progressos da ciência nos são úteis? Úteis como, e úteis em quê? Porque aumentaram o nosso conforto, a nossa felicidade? Julgais com verdadeira sinceridade que somos mais felizes do que os gregos, que a nossa vida tem mais conforto e alegria e beleza do que a deles? Não o julgais, bem o sei. Em que progredimos, portanto?
Transportamo-nos mais depressa de um ponto para o outro. Trocamos palavras mais rapidamente através de distâncias. Vestem-nos tecidos vindos de muito mais longe. Mas nem um grão mais de felicidade veio ter connosco. Nem uma gota mais de ciência refresca a nossa fronte. Se olharmos para o fundo do que sabemos, do que temos e do que somos, veremos que, perante o mundo e a vida, a nossa visão não é mais lúcida nem mais calma, que não somos felizes, que o medo da morte pesa sobre nós como decreto, que os laços da sensualidade riscam-nos sobre o corpo como outrora.


(...)


Confusos é tudo o que somos. Perdemos a visão lúcida do mundo, e a inteira visão lúcida de nós-mesmos. Enfebrecemos e envelhecemos. O que há de novo em nós, sobre o que a Grécia tinha, é a velhice.

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