Espólio de Kafka em Telavive pode ser conhecido na próxima semana

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Jerusalém, 27 Jan (Lusa) - O espólio do escritor Franz Kafka, levado para a Palestina pelo seu amigo Max Brod, poderá ser conhecido na próxima semana, após uma ordem judicial que dita a abertura dos cinco cofres onde se pensa estar escondido, em Telavive.
Depois de meses de procedimentos judiciais, audiências, intimações e recursos, o Tribunal Familiar Distrital de Telavive, onde decorre o processo, fixou como prazo o dia 04 de Fevereiro para a abertura dos cofres, disse hoje Meir Heller, advogado da biblioteca nacional israelita, que luta pela obtenção dos documentos pertencentes ao escritor checo.
Em princípio, tudo indica que o prazo será cumprido, já que Ruth e Eva Hoffe, que receberam os documentos da mãe, Esther (secretária e companheira de Max Brod, falecida há três anos), já entregaram as chaves dos cofres a um testamenteiro nomeado pelo tribunal, acrescentou.
As irmãs são as únicas conhecedoras - a par de alguns testamenteiros - do tesouro literário que os cinco cofres escondem, para além de um outro, descoberto no ano passado em Zurique, sobre cujo conteúdo especulam há meses os especialistas, na esperança de que se trate de obras inéditas de Kafka (1883-1924) ou outros manuscritos de valor incalculável.
As idosas irmãs Hoffe opõem-se à abertura das caixas, com o argumento de que poderá violar o seu direito à privacidade e "reduzir consideravelmente" o preço de venda dos manuscritos, segundo o seu advogado, Oded Hacohen.
Também o Arquivo de Literatura Alemã de Marbach, onde se encontra o original de "O Processo", rejeita a abertura dos cofres, por temer que os manuscritos sejam danificados.
Os disputados textos, notas, desenhos e cartas chegaram à então Palestina sob protectorado britânico em 1939, pela mão de Brod (judeu, como Kafka), que fugiu de Praga perante a iminência da chegada dos nazis.
Brod não cumpriu o pedido do autor de "O Processo" e "A Metamorfose" para que queimasse os seus manuscritos quando morresse.
Por sua vez, Brod morreu em 1968, depois de doar à Universidade de Oxford os manuscritos de "América" e "O Castelo" e deixar em testamento a gestão do resto do espólio de Kafka a Esther Hoffe, com a condição de que os entregasse "à Biblioteca Nacional de Jerusalém, à Biblioteca Municipal de Telavive ou outro arquivo público em Israel ou no estrangeiro".
A equipa jurídica da biblioteca nacional apresentou há duas semanas ao tribunal um documento de 1964 com o qual espera inclinar a balança a seu favor. Trata-se de uma carta de Brod a um dos seus melhores amigos, o alemão Felix Weltsch, na qual terá dito que alterou o testamento escrito três anos antes.
"A forma como as irmãs Hoffe estão a agir faz-nos pensar que nos cofres não há só textos de valor literário ou científico, mas também documentos que poderão mudar o curso do processo judicial, como essa revisão do testamento", defendeu o advogado da biblioteca israelita.
Em contrapartida, a defesa das irmãs Hoffe apresentou duas cartas entregues à sua mãe por Brod em 1947 e 1952, nas quais terá deixado "preto no branco" que lhe oferece diários, fotos, cartas e notas manuscritas de Kafka, de acordo com o diário israelita Haaretz.
Entre os documentos presumivelmente oferecidos figuram os originais dos contos "Um Médico Rural", "Um Sonho" e "Preparativos de uma Boda no Campo", bem como da famosa carta que Kafka escreveu em 1919 ao seu autoritário pai criticando-lhe o trato severo e distante.
A concretizar-se a abertura dos cofres, os especialistas nomeados pelo tribunal começarão a estudar o seu conteúdo, numa reunião já convocada para Abril.

ANC.

Fonte: Lusa/fim

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