Do Génesis chinês

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Era uma vez um gigante chamado Pan Gu. Habitava o imenso vazio onde nada existia e tudo era ausência. Nasceu num ovo enorme que se partiu e se separou em duas partes. A clara, branca e pálida ficou a pairar no espaço e formou o Céu, a gema, densa e amarela, caiu e deu origem à Terra. Pan Gu viveu durante dezoito mil anos e todos os dias crescia alguns palmos, sempre afastando o Céu da Terra. Ao aproximar-se a morte, chorou e as suas lágrimas transformaram-se nos rios Amarelo e Yangtsé. Depois, a respiração de Pan Gu assumiu-se como vento e nuvens, a sua voz como trovões, o seu olhar como relâmpagos.

Quando morreu, caiu pesado sobre a Terra. Os seus ossos espalharam-se e formaram os montes e montanhas, o seu olho direito subiu ao Céu e transmutou-se em sol, o seu olho esquerdo, em lua. Os cabelos e as barbas espalharam-se pelo universo e vieram a ser as estrelas e a Via Láctea, o seu suor, a chuva, os pêlos, deram as plantas e as árvores, as gorduras do gigante derreteram e originaram a água dos mares. Por último, o que restava do corpo, as entranhas de Pan Gu cobriram-se de vermes, milhões e milhões de vermes, a espécie humana.

In "Lao Zi, Confúcio e Buda, três vias da religiosidade chinesa", António Graça de Abreu.

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