
Todo o poder é conservador. Todo o colégio, toda a agremiação, todo o partido, toda a igreja, todo o exército. Qualquer poder é conservador sob pena de se desagregar. Se eu entregar às pessoas esses subprodutos, elas não só não fazem determinadas perguntas como não exigem determinadas respostas. E desta maneira a ordem não será subvertida. [...]
Somos conservadores, conservamos tudo aquilo que nos tranquiliza. E quando, de repente, somos apanhados pela verdade horrível da agonia e da morte, descobrimos que já é demasiado tarde. Conrad tem razão quando diz que tudo o que a vida nos pode dar é um certo conhecimento dela que, normalmente, chega demasiado tarde. Lembro-me de, no 25 de Abril, a maior parte das pessoas estar cheia de medo da liberdade. E de o caseiro do meu avô defender que era preciso que os franceses viessem tomar conta de nós. [...]
Às vezes penso se todos estes prémios não serão a forma mais perigosa de me neutralizar, que é adoptarem-me. Como quando os escritores vitorianos foram neutralizados. Ou como quando fizeram de Camilo Visconde de Correia Botelho.
Entrevista a António Lobo Antunes, Visão n.º 866.
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on domingo, 18 de outubro de 2009
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