Literólicos Anónimos

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A ideia nasceu de "um grupo de amigos que gostava de ver jogar o Benfica e nos intervalos discutia literatura". É assim que Rui Alberto explica a criação da revista "Callema", dedicada à publicação de textos inéditos de quem já tem nome e de quem (ainda) não tem voz.

Tudo começou no primeiro ano da faculdade, no curso de Estudos Portugueses. Rui e quatro amigos, "o núcleo duro da 'Callema'", queriam produzir uma revista na qual pudessem publicar textos sem ninguém que os censurasse. O sonho só se concretizou no fim da faculdade, em Novembro de 2006.

Ver o produto do esforço e trabalho de cinco rapazes entre os 25 e os 28 anos, "foi fantástico mas ao mesmo tempo estranho": "Foi óptimo ver que não era só conversa, que realmente conseguíamos fazer alguma coisa e foi estranho porque para alguns foi a primeira publicação."

A revista não dá lucro, mas também não dá despesas: auto-sustenta-se. Cada um tem o seu trabalho e um deles nem vive em Portugal - depois do curso decidiu procurar trabalho lá fora - mas nem por isso desistem do sonho: "Enquanto houver romantismo, isto vai para a frente. Estamos sozinhos, não podemos depender de ninguém, mas vale a pena."

Apesar de uma modesta tiragem de cem exemplares, a "Callema" recebe vários pedidos de colaboração, contos, ensaios e poemas dos quais vive, a par de "convites que são feitos a algumas pessoas, para cada edição". No número dois da revista contaram com três poemas inéditos de Nuno Júdice, escritor, poeta, ensaísta e professor universitário, num exemplar que esgotou.

No entanto, e por muito louvável que a ideia seja, a pergunta obrigatória é: o que leva estes jovens, que nem 30 anos têm, a entregarem-se a um projecto que não dá lucro? A resposta, romântica, não demora. "A partir do momento em que viemos a público, adquirimos um dever cívico: temos o dever de fazer ler, pensar e escrever." E se acha que tem qualidade para aparecer nas páginas da "Callema", tem bom remédio: callema@cooperativaliteraria.net. Mas não se esqueça que esta malta só aceita textos inéditos... e bons.

O reino digital
Chama-se "Orgia Literária" (orgialiteraria.com) e é uma revista digital de crítica literária, online há mais de três anos. Nasceu pelas mãos de Emanuel Amorim de 24 anos e Gonçalo Mira, de 23: "A ideia era escrever só sobre livros, sobre o que gostávamos e líamos, mas depois fomo-nos tornando mais atentos às obras que saíam e hoje temos entrevistas e artigos generalistas sobre literatura."

Gonçalo acabou o curso de literatura este ano e espera encontrar trabalho rapidamente, mas nem a perspectiva de passar a ter menos tempo para a manutenção do site o demove: "É verdade que dá trabalho mas havendo vontade dá sempre para conciliar. O importante é que não sejamos só nós, continuando com os 20 colaboradores que já temos é mais fácil."

Sem lucros e com algumas despesas inesperadas (como a compra de um servidor próprio para alojar o site), estes dois jovens mantêm a revista digital, por amor aos livros e fidelidade à literatura.

Longe vão os tempos em que os movimentos literários usavam as revistas como palcos de ensaio para a experimentação de novos estilos. Apesar disso e da irregular periodicidade das revistas de hoje, parece que afinal as gerações de "Orpheu", "Presença" ou "Sudoeste" (Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, José Régio, Almada Negreiros) ainda respiram.

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