O poema de maior universalidade humana

Posted by C. in

Quando alguém escreve «Direitos Humanos», seja no papel, no computador, numa parede ou na areia da praia, está a escrever o poema de maior universalidade humana. E o mesmo acontece quando alguém diz «Direitos Humanos» numa cela, num país de exílio, na trincheira de uma guerra absurda - e todas as guerras são absurdas e desenecessárias -, ou numa rua estremecida por milhares de manifestantes a favor da vida. A literatura e a sua imprescindível mensagem de universalidade humana também se diz em voz alta e com o clamor das multidões.

No meu idioma, o espanhol, que une e dá identidade cultural a quase quinhentos mulhões de pessoas, a palavra PAZ tem apenas três letras, mas são letras contundentes e graníticas. É uma palavra que amamos porque a dissemos e escrevemos durante séculos sem conseguir, e não por nossa culpa, que ela, a PAZ, seja a luz que ilumina nossas vidas. Mas continuamos a insistir, justamente porque sabemos que essa palavra PAZ é outra das grandes jóias da universalidade humana.

A literatura faz-se com palavras e a sua magnitude decide precisamente a universalidade humana do escritor. Não é a sabedoria nem o acervo cultural que dão esplendor a palavras breves como PÃO, PAZ, TRABALHO, JUSTIÇA e LIBERDADE. Se quem as profere ou as escreve não sabe, ou não quer saber, que essas palavras são inequívocas no seu significado, qualquer que seja o idioma em que sejam escritas ou ditas, despoja-as da universalidade humana que têm essas palavras fundadoras dos Direitos Humanos, a grande herança de todas as civilizações.

Sepúlveda, Luis, O Poder dos Sonhos, trad. de Henrique Tavares e Castro, Lisboa, ASA, 2006, pp.113, 114.

This entry was posted on sábado, 29 de agosto de 2009 at sábado, agosto 29, 2009 and is filed under . You can follow any responses to this entry through the comments feed .

0 comentários

Enviar um comentário