O Alienista

Posted by Actia in


Simão Bacamarte começou por meter o secretário na Casa Verde, e foi dali à Câmara, à qual declarou que o presidente estava padecendo da "demência dos touros", um gênero que ele pretendia estudar, com grande vantagem para os povos. A Câmara a princípio hesitou, mas acabou cedendo.
Daí em diante foi uma coleta desenfreada. Um homem não podia dar nascença ou curso à mais simples mentira do mundo, ainda daquelas que aproveitam ao inventor ou divulgador, que não fosse logo metido na Casa Verde. Tudo era loucura. Os cultores de enigmas, os fabricantes de charadas, de anagramas, os maldizentes, os curiosos da vida alheia, os que põem todo o seu cuidado na tafularia, um ou outro almotacé enfunado, ninguém escapava aos emissários do alienista.

ASSIS, Machado de, O Alienista e Alguns Contos, Lisboa, BI, 047, 2008

Foto: Encenação de "O Alienista", pelos Cães à Solta, 2006.

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2 comentários

Como finalista de EPL, citar Machado de Assis é celebrar a aprendizagem eficiente, a crítica, a questionação, o gosto e a verdadeira literatura que um mestre único soube transmitir. Valeu a pena!

24 de maio de 2009 às 21:27

"Se um dia porém a sorte favorecesse os loucos, se o seu número fosse o superior e o género da sua loucura idêntico, eles é que passariam a ser os ajuizados: Na terra dos cegos, quem tem um olho, é rei, diz o adágio: na terra dos doidos, quem tem juízo, é doido, concluo eu."

Mário de Sá-Carneiro, Loucura, Coimbra, Alma Azul, 2005, p.36.

25 de Maio de 2009 19:29

25 de maio de 2009 às 19:32

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