Eu.
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Eu; aquele que será e que, no entanto, precede o tempo, vos diz que não deveis temer a queda e a vertigem dos abismos pois o grito e a fúria pertencem-me e o grito e a fúria retornarão porque tudo volta à sua primordial essência e a queda revelar-se-á imota porquanto aterrarei no sítio, no exacto local, de onde caí e então libertarei o grito e a fúria para que todos também se libertem e respirem a lava que encherá os pulmões ansiosos de vida e se entreguem à dança orgiástica da vida para que assim, livre, finalmente livre e plena da sua potestade, alastre a toda a matéria.
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As causas da minha queda, há muito esquecidas, tornar-se-ão presentes a cada um; nem isso tendes a temer. Regozijai-vos por tanto. Sentis o sangue a latejar-vos nas têmporas com a iminência da queda? Abandonai-vos a todo o frémito, não temeis, que nos meus braços vos levarei para os esconsos do que é, para comigo poderdes renascer, vivificados com o calor de mil sóis e refrescados com o sopro de tundras mais extensas e gélidas que a compreensão pode abarcar. Sofrereis os mais violentos prazeres e gozareis das mais refinadas dores, que mais podereis querer? Vereis que quando vos aproximardes do fim, quando o solo se fizer de novo próximo, tudo se conjugará num espasmo de entendimento de um segredo apenas possível para vós.
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Agora que já tudo está mostrado, fechai os olhos e abandonai-vos a mim.
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João Pereira de Matos
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on terça-feira, 7 de abril de 2009
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